sexta-feira, 19 de outubro de 2012

TECNOLOGIA X ÍNDIOS



TECNOLOGIA AJUDA ÍNDIOS A PROTEGER FLORESTAS DO DESMATAMENTO


Em parceria com o Google, Suruís se tornaram o primeiro povo indígena do mundo a ter um projeto certificado de carbono.

 A equipe do “Cidades e Soluções”  foi a Rondônia conhecer de perto um projeto inédito no mundo: uma curiosa parceria entre os índios suruís e técnicos da Google. De um lado, conhecimento ancestral da floresta. Do outro, o domínio da tecnologia para múltiplos usos.
Os índios chegaram primeiro, há quase 10 mil anos, e resistiram a sucessivos massacres desde que os primeiros portugueses desembarcaram no Brasil. O número de índios mortos por doenças transmitidas pelos colonizadores ou dizimados em conflitos pode chegar a milhões. Hoje, de acordo com o último censo, restam pouco mais de 800 mil indígenas no país.
O primeiro contato com os índios Paiter-Suruí foi traumático. Quase toda a aldeia foi dizimada durante a construção da BR-364, Cuiabá-Porto Velho. A principal fonte de renda da tribo já foi a venda de madeira da própria reserva. Mas essa realidade começou a mudar há um ano e meio, quando Almir Suruí foi eleito o novo líder da tribo. Ele explica que os índios da aldeia querem proteger o território a partir de parcerias com o governo, ONGs e utilizando tecnologia.
Almir Suruí não consegue ficar muito tempo na aldeia. Já viajou por 31 países à procura de apoio para o projeto “Suruí 50 anos”. Escolhido pela revista americana Fast Company como uma das cem lideranças mais criativas do mundo, Almir Suruí visitava os Estados Unidos, quando decidiu bater na porta da Google, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. O diretor da equipe de conservação da Amazônia, Vasco Van Roosmalen, acompanhou o índio e lembra que a primeira conversa durou mais de três horas.
A engenheira de software e gerente de projeto comunitário da Google Rebeca Moore lembra com emoção da primeira vez que viu o território suruí na tela do computador a partir de imagens de satélites: uma mancha verde estava cercada de desmatamento por todos os lados, 248 mil hectares preservados de floresta entre os estados de Rondônia e Mato Grosso. Rebeca destaca a importância do significado da palavra “socioambiental”, que não existe em inglês.
Nas mãos dos índios suruís, celulares têm outras funções. Na floresta, para cada movimentação estranha ou presença hostil, eles foram treinados especialmente para registrar a imagem e rastrear via satélite, com a ajuda do GPS, a localização exata, por exemplo, de um madeireiro ilegal. Essas informações são enviadas para as autoridades competentes, como a Polícia Federal e a Funai. Índios também registram nos aparelhos todas as espécies animais e vegetais. É o biomonitoramento da reserva suruí.
Americanos vieram de longe para lançar uma plataforma digital inédita inspirada num pedido dos índios. O mapa cultural dos suruís inspirou um novo software que será disponibilizado gratuitamente para o mundo até o final do ano. Quando um não fala a língua do outro, quem torna a conversa possível é o computador, com uma ferramenta do Google que faz a tradução automática.
Os suruís celebram os novos tempos relembrando antigos rituais, como danças. Corpos são pintados com tintura de jenipapo, que leva no mínimo duas semanas para sair. Uma das razões mais importantes para toda essa festa é que os suruís se tornaram o primeiro povo indígena do mundo a ter um projeto certificado de carbono.
Vasco Van Roosmalen conclui que o trabalho está contribuindo a diminuir mudanças climáticas a partir da proteção das florestas e acrescenta que esse é o primeiro projeto no Brasil que faz isso, e o primeiro projeto liderado por indígenas no mundo.
O líder Almir Suruí comemora a parceria: “As pessoas estão vendo como um povo indígena pode lidar com tecnologia. Pra nós, é um grande orgulho criar uma consciência de que tecnologia é pra construir o futuro, não é pra estragar, não é pra colocar qualquer informação inútil para a nossa humanidade. Podemos refletir como melhorar ou criar um novo modelo de fazer o nosso planeta mais sustentável”.

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