segunda-feira, 24 de setembro de 2012

TRABALHANDO COM FOTOGRAFIA


Trabalhando com fotografia
Para olhar o mundo com mais sensibilidade...


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O olho mecânico das câmeras fotográficas está sendo substituído num processo rápido e implacável nos últimos anos pelos dispositivos eletrônicos das máquinas digitais. O crescimento desse segmento tem sido tão grandioso nos últimos anos que, sem qualquer sombra de dúvidas, em pouco tempo teremos câmeras digitais em tamanha profusão que será possível encontrar qualquer tipo de imagem na internet.
Adicione-se a isso o fato de que também os telefones celulares, de grande popularização na última década pelo mundo afora, tiveram a adição de recursos em seus mecanismos que lhes permitem ser utilizados como câmeras digitais e até mesmo filmadoras. É certo que a resolução, o tempo de filmagem e a capacidade de armazenamento de imagens nos celulares é ainda reduzida quando comparada com os equipamentos que se destinam propriamente a essa finalidade, no entanto, novidades no setor são anunciadas praticamente todos os dias e, certamente, a busca de recursos cada vez mais eficientes é uma das principais metas das indústrias desse segmento.
A disputa das empresas do setor e também o crescimento da produção e da oferta desses equipamentos também está favorecendo a disseminação das máquinas digitais ao promover, em virtude da competição acirrada entre os fabricantes, a queda dos preços dessas importantes ferramentas tecnológicas.
Com isso, as câmeras estão chegando as escolas, ainda que tardiamente e com todos os problemas decorrentes de sua incorporação a um ambiente em que as novas tecnologias são olhadas com preocupação pelos profissionais que as deviam estar incorporando ao seu cotidiano de trabalho. Isso acontece tanto pelo fato de que não há a devida formação dessas pessoas para o trabalho com esses recursos e também pelo fato de que essa entrada em cena das ferramentas da tecnologia é feita sem o adequado planejamento prévio e sem que todas as unidades escolares sejam agraciadas com os equipamentos ao mesmo tempo.
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Atendo o telefone ou tiro uma foto?
No caso das máquinas fotográficas digitais há ainda a preocupação com o fato de que o equipamento é ainda um pouco caro, pequeno demais (o que pode facilitar furtos) e que as unidades escolares públicas provavelmente receberão tal ferramenta em quantidade reduzida e não compatível com a sua demanda, isso se vierem a recebê-la...
Independentemente das políticas públicas e de seu atraso comparativamente com outras nações que estão investindo maciçamente em educação e obtendo os resultados ainda dentro do período de vida das atuais gerações de seus habitantes, temos que seguir em frente e desbravar os territórios da educação para incorporar ao seu habitat novas práticas, metodologias, idéias, leituras e ferramentas.
Nesse sentido, se em sua escola ainda não estão disponíveis as máquinas fotográficas digitais, não deixe de realizar projetos com fotos. Utilize as boas e confiáveis máquinas de filmes em rolo que os resultados podem ser tão bons ou até mesmo melhores do que se forem realizados com as digitais. O importante é perceber que os alunos podem ser instados a realizar ótimas produções tendo por base o trabalho com imagens fotográficas que tenham sido produzidas por eles mesmos. Há também a possibilidade de convidar os alunos a trabalhar com as máquinas fotográficas de suas famílias ou deles mesmos, sendo que, essa alternativa existe para alunos mais velhos (do ensino médio ou universitário, por exemplo).
Torna-se ainda mais interessante pensar nessa proposição se levarmos em conta que esses projetos podem ser realizados com estudantes das mais diversas faixas etárias, da educação infantil ao 3º grau. Nesse sentido deve-se apenas pensar e planejar de que formas isso poderia ser implementado pelos professores em cada um desses níveis. Apresentamos a seguir algumas sugestões e imaginamos que elas podem e devem servir como referências para que muitas outras venham a ser pensadas, planejadas e executadas pelos educadores de nosso país.
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Atenção com as luzes, o foco, as sombras e as cores...
1- Para que os projetos sejam bem-sucedidos é de primordial importância que informações de caráter técnico relativas ao uso das câmeras, dados sobre o manuseio, orientações sobre luz/foco/sombra/cores e também aulas sobre estética, arte e criatividade sejam dadas aos alunos para que fique mais clara e elaborada a produção com esses equipamentos. Nesse sentido procure o apoio de profissionais e especialistas que se disponham a realizar cursos rápidos entre os professores da escola. Os educadores irão então se apropriar de conhecimentos na área e os adequarão aos estudantes com os quais trabalham.
2- Sempre que for trabalhar com fotografias procure definir temas orientadores da ação de nossos estudantes-fotógrafos. O direcionamento do olhar tem que ser feito de acordo com os temas que estão sendo trabalhados em sala de aula, como reforço e contraponto aos conteúdos, leituras, filmes e aulas expositivas realizadas. Se o seu público for composto pelos alunos da educação infantil o trabalho pode, por exemplo, ter como foco a família, o ambiente em que a criança vive, as brincadeiras e os brinquedos de seu cotidiano, animais de estimação, o bairro em que está estabelecida a escola, uma visita ao mercado municipal ou a feira,...
3- As câmeras digitais permitem que uma boa quantidade de fotos seja tirada se estiverem disponíveis alguns chips de armazenamento. Outra alternativa é que, se estiverem sendo utilizadas tais câmeras, ao ocorrer o esgotamento da capacidade de armazenamento de imagens do equipamento, sejam descarregadas num HD de computador as fotos obtidas e imediatamente clareada a memória para que novas reproduções possam ser feitas.
4- Todas as imagens obtidas devem, num segundo momento, passar por um processo seletivo para que apenas as melhores venham a ser aproveitadas nos projetos. Se essas imagens forem digitais, elas podem ser utilizadas em apresentações de powerpoint ou impressas (algumas delas para não encarecer os projetos).
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Temos o mundo inteiro para fotografar...
5- A estruturação de exposições através de powerpoint (nos computadores ou em telas) ou painéis (com a produção de cadernos/catálogos com imagens obtidas por todos os estudantes) deve sempre ser acompanhada de diários de bordo, que permitam aos alunos expressar por escrito como foi tal experiência, porque foi realizada, o que foi aprendido, o que acharam de tal projeto,...
6- As imagens obtidas devem ser acompanhadas de legendas explicativas que contenham paralelos entre o que pode ser observado na foto e os conteúdos que estão sendo trabalhados em sala de aula.
7- Apresentações de trabalhos fotográficos feitos pelos estudantes devem sempre ser abertas a toda a comunidade. Inicialmente podem ser feitas no âmbito escolar para que os outros alunos conheçam a produção e também para que os pais, parentes e amigos conheçam os projetos. Uma outra etapa, igualmente importante deve prever a apresentação para outras unidades escolares e para a própria cidade.
8- Caso as fotos tenham sido obtidas a partir de câmeras digitais, o trabalho em questão pode gerar a produção de um fotoblog. Essa possibilidade iria permitir que pessoas de diferentes municípios, estados ou mesmo países pudessem conhecer um pouco da cultura, dos hábitos e do cotidiano de nosso país.
9- O trabalho com fotografias poderia também ser utilizado sempre que a escola programasse visitas e excursões. Nesse sentido as fotos serviriam para documentar e auxiliar no relato dessas atividades, especialmente no caso daquelas que tivessem um claro cunho cultural ou educacional.
10- Projetos mais amplos relacionados a fotografia poderiam redundar na criação de registros das atividades gerais promovidas pelas escolas ao longo de todo o ano escolar e promover o surgimento de livros que contassem a história da escola; outra alternativa de ampliação do uso das fotos nas escolas seria a estruturação e o surgimento dos jornais de estudantes coordenados com o apoio dos professores.
Em suma, há muitas idéias passíveis de realização nas escolas relativamente a utilização da fotografia. A principal meta deve ser estimular um olhar mais curioso, crítico, engajado e sensível quanto ao mundo que nos cerca. Somos dotados de visão e muitas vezes parece que não conseguimos visualizar nem mesmo o que está diante de nossos próprios olhos. Quem sabe com o auxílio das câmeras fotográficas possamos realmente ampliar a nossa capacidade de perceber tudo aquilo que está ao nosso redor e nos articular mais efetivamente pelo mundo em que vivemos ao mesmo tempo em que mobilizamos os nossos estudantes...

Diário de Classe
João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).
retirado blog: ntmsaojose.blogspot.com.br

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