terça-feira, 11 de setembro de 2012

ACESSO À INTERNET



MENOS DA METADE DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ENSINO FUNDAMENTAL TEM ACESSO À INTERNET

Para especialistas, a falta de investimento em infraestrutura e na formação dos docentes são empecilhos para a introdução de novas tecnologias

Menos da metade das escolas públicas de Ensino Fundamental tem acesso à internet

João Bittar/MEC
Lucas Rodrigues


Apenas 42,6% das escolas públicas de Ensino Fundamental têm acesso à internet e 55,9% delas ainda não possuem laboratório de informática, segundo o último resumo técnico do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), de 2011.

As regiões Norte e Nordeste são as que possuem os menores porcentuais de acesso à  internet, 18,7% e 25,3%, respectivamente. Abaixo, veja mais dados.
RegiãoEscolas  Matrículas
Total
Acesso à 
internet
(em %)
Laboratório 
de 
informática
(em %)
Total 
Acesso à 
internet
(em %)
Laboratório 
de 
informática
(em %)
Brasil125.08142,644,126.256.17979,576,9
Norte20.31118,720,63.038.53257,658,2
Nordeste56.53225,329,78.059.19162,163,4
Sudeste28.06972,667,99.720.16593,986,8
Sul14.29974,076,23.538.73893,391,8
Centro-oeste5.87073,071,81.899.55389,285,8
Fonte: Inep/MEC.
Apesar da baixa porcentagem de estabelecimentos de ensino com acesso às tecnologias no País, 79,5% dos estudantes da rede pública no Ensino Fundamental possuem esses recursos disponíveis e 76,9% deles contam com laboratórios em suas escolas. Isso acontece porque as escolas que têm os equipamentos concentram mais matrículas do que as que não contam com a infraestrutura necessária.
No entanto, Cleuza Repulho, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), lembra que a simples presença de laboratórios de informática nas instituições não basta. “A escola inteira tem que ter acesso à internet. Em unidades grandes, como temos na rede pública, ter um laboratório com 15 computadores faz com que cada criança consiga passar por ele, em média, apenas a cada 15 dias”, afirma.
Ainda segundo ela, um dos principais entraves para a introdução dos meios digitais no ambiente escolar é a falta de infraestrutura para dar suporte a um sistema de banda larga com qualidade. “O ideal seria que todas as escolas tivessem o recurso wi-fi disponível, assim não precisaríamos ter só um laboratório. Qualquer espaço poderia ser de acesso digital”, lembra.
Um dos desafios do Brasil é sanar as dificuldades de operacionalização de suas redes, segundo Cleuza. “O mesmo problema da telefonia celular acontece com a internet”, afirma. “Custa muito caro trazer acesso de qualidade para as instituições de ensino, mesmo com programas federais como o ‘Banda Larga nas Escolas’”.
Escola conectada
Hoje, o Ministério da Educação (MEC) tem o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo), voltado para a disseminação da tecnologia pedagógica na rede pública de ensino. O programa leva recursos digitais às escolas. A responsabilidade de garantir a estrutura adequada para os equipamentos é das redes municipais e estaduais.
No início do ano, o ministro Aloizio Mercadante anunciou que o MEC vai distribuir 600 mil tablets para os professores, com um investimento entre R$ 150 milhões e R$ 180 milhões. O processo vai começar antes que se tenha uma análise do impacto do Programa Um Computador por Aluno (Prouca), do governo federal. Pelo Prouca, criado em 2005, estados, municípios e o Distrito Federal podem adquirir laptops novos para as escolas. O programa chegou a apenas 2% das escolas do País.
Segundo especialistas, não adianta as ferramentas serem oferecidas sem o preparo dos profissionais da educação para lidar com elas. Para eles, a escola precisa saber incorporar as chamadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) à rotina da sala de aula.
“As crianças e jovens vão para a escola como se fosse um mundo à parte daquilo que eles vivem”, afirma Priscila Gonsales, diretora-executiva do Instituto Educadigital. “As pessoas já estão financiando, comprando os seus computadores. Isso já faz parte da rotina delas”, analisa. 
A pesquisa TIC Domicílios 2011, do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação,comprova o que diz Priscila. Segundo o estudo, o crescimento do uso da internet em casa vem substituindo o acesso à rede em lan houses ou centros públicos de acesso pago. “A escola não pode estar desligada do que a sociedade é. Hoje estamos impregnados de uma cultura digital”, explica ela.
Formação docente
Outro estudo recente, divulgado pelo Comitê Gestor da Internet, analisou no ano passado 650 estabelecimentos educacionais, entre eles 497 escolas públicas, e revelou que 94% dos professores observados possuíam computador em casa. 
Apesar do contato dos docentes com as novas tecnologias, especialistas afirmam que o principal empecilho para a introdução dos meios digitais nas escolas é a falta de investimento nas formações inicial e continuada dos professores.
“A formação inicial, por exemplo, pouco mudou nos cursos de licenciatura nas últimas décadas. Atualmente ela não entrelaça os conteúdos específicos com as tecnologias e com os conteúdos pedagógicos”, analisa Marcus Vinicius Maltempi, especialista em tecnologias na Educação da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “O professor recém-formado tende a reproduzir em sala de aula o que ele aprendeu em sua formação.”
Segundo Maltempi, os professores ainda carecem de tempo e de mais interlocutores para se adaptarem às tecnologias digitais em sala de aula. “Aquele professor que dá aula em diversas escolas e cumpre uma jornada de trabalho muito grande, e ainda tem todos os seus afazeres pessoais, não possui tempo de pensar em mudar sua prática”, afirma.
Maltempi acredita também que o professor é peça-chave do processo de inserção das novas tecnologias em sala de aula, mas que o apoio da comunidade e das secretarias de Educação é fundamental. Ele alerta ainda que apenas o aparato tecnológico não é responsável por uma melhora na aprendizagem.
“A introdução das tecnologias digitais deve ser feita de modo a não perder de vista os conteúdos. Não é a tecnologia como um acessório, mas sim entrelaçada aos conteúdos. E são eles que dão a base para que o uso da tecnologia tenha sentido”, afirma.

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