terça-feira, 20 de novembro de 2012

A AFRICANIDADE E A PAIXÃO PELA BAHIA DE CARYBÉ



Carybé (Hector Julio Páride Bernabó) - A arte e a paixão pela Bahia

Hector Julio Páride Bernabó - conhecido por CARYBÉ.
(1911 Lanus-Argentina - 1997 Salvador-Bahia).
Internacionalmente conhecido como Carybé, o pintor, ilustrador, desenhista, ceramista, escultor, pesquisador, historiador e jornalista Hector Julio Paride Bernabó é um dos principais artistas plásticos do século 20. Depois de morar em Gênova, Roma, Rio de Janeiro e em cidades de outros países, mudou-se em 1950 definitivamente para Salvador, onde ficou até sua morte, durante uma cerimônia no terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, em 1° de outubro de 1997.
Carybé.
Nasceu a 7 de fevereiro de 1911, num dia de chuva miúda e tão perto da meia-noite que não se sabe ao certo se nasci no dia que nasci ou no anterior”. Nasceu em Lanus, “espécie de subúrbio de Buenos Aires que tem o Riachuelo no meio: aquele mesmo rio da famosa batalha separa Buenos Aires de Lanus, dormitório de pistoleiros e guardacostas de políticos."
Pai cigano, não de galera e bastão, de alma, andou pela Argentina, Venezuela, Itália, Brasil. Carybé tinha seis meses quando a família foi para a Itália, onde ficaram nove anos. Em 1920 passaram a viver no Rio, em Bonsucesso. “Como estudante sempre fui ruim e tomei carinho às arvores, campinas, às praias, ao sol e à vagabundagem.” Quando ele completou 19 anos, retornaram à Argentina para ficar. Fala as três línguas de infância sem sotaque.
Aprendeu a desenhar em casa, vendo os irmãos mais velhos Arnaldo e Roberto que eram desenhistas, pintavam, esculpiam e trabalhavam em publicidade. Aos 21 anos Carybé começou a desenhar. Fazia cartuns, charges, ilustrações e escrevia - texto conciso, exato e bem humorado - tendo colaborado com diversos jornais e revistas de Buenos Aires e do Rio. “No inicio tinha um desenho comum, sem nada de especial. Como acho que todo mundo faz no começo de carreira, tive influência de outro artista: fiz desenho à moda de Grosz (famoso artista gráfico alemão radicado em Buenos Aires, dono de um desenho cáustico e irônico), que mudou-se para Nova York e foi absorvido pela ‘jungle’, nunca mais fez nada. Comi e digeri Grosz. Dele saí eu, como, não sei." Mas olhando um desenho de Carybé daquela época e comparando-o ao de Grosz, vemos que o único ponto em comum é o olho para o detalhe. Naqueles primeiros desenhos já se percebia a marca pessoal do seu estilo.
De cartunista resolveu passar às tintas e pincéis e em 1936 fez sua primeira exposição. Senhor de muitas andanças e vivências, fez de quase tudo, foi inclusive estivador e pandeirista no grupo que acompanhava Carmem Miranda, fato que seu amigo e colega Mirabeau Sampaio sempre pôs em dúvida.
Em 1938, é enviado a Salvador pelo jornal “Prégon” quando declarou: “me deram o melhor emprego do mundo – viajar e mandar desenhos. Mas quando cheguei a Salvador, o diário tinha falido”, acaba ficando desempregado e faz uma viagem por todo o litoral norte do Brasil. Nesta época começou a registrar a cultura local através de sua arte: a capoeira, o candomblé. Voltou para Buenos Aires e em 1939, fez sua primeira exposição coletiva, com o artista Clemente Moreau, no Museu Municipal de Belas Artes de Buenos Aires. No início dos anos 40 viajou pela América Latina, e passou alguns anos em Buenos Aires, onde trabalhou em jornais, como ilustrador de livros e traduziu o livro Macunaíma, de Mário de Andrade, para o espanhol. Em 1943 fez sua primeira exposição individual e ilustrou o livro "Macumba, Relatos de la Tierra Verde", de Bernardo Kordan.
No Rio de Janeiro, ajuda a fundar o jornal Diário Carioca, em 1946. Em 1949 é convidado por Carlos Lacerda a trabalhar em seu jornal, a Tribuna da Imprensa, onde fica até 1950.
Roda de Samba, de Carybé.
Convidado pelo Secretário da Educação Anísio Teixeira, Carybé muda-se definitivamente para a Bahia, onde batalha pela renovação das artes plásticas, ao lado de outros artistas, como Mário Cravo Júnior, Genaro de Carvalho e Jenner Augusto.
Em 1957 naturalizou-se brasileiro, e é considerado um ícone de “baianidade”. Entre seus diversos amigos estava o escritor Jorge Amado, que escreveu O Capeta Carybé, onde define o amigo como alguém que “é todo feito de enganos, confusões, histórias absurdas, aparentes contradições, e ao mesmo tempo é a própria simplicidade (...)”.
A arte de Carybé foi por vezes um expressionismo marcante, com um sentimento carregado em cores escuras. Mas o que marcou presença foi o retrato de um povo, sua religião e seus costumes, passados por vezes de maneira surreal. Ao retratar o povo, Carybé não estava fazendo uma pintura de cunho social, não acreditava neste poder da arte. O que ele queria, e conseguiu, era passar para a tela seu testemunho de uma cultura rica em detalhes, e da qual ele fez questão de se aproximar.
Há uma história curiosa por trás do nome pelo qual o argentino Hector passou a ser conhecido. O artista pensava que seu apelido era derivado do nome de um pássaro pertencente à fauna brasileira e foi o amigo Rubem Braga quem esclareceu o mal entendido: Carybé é o nome de um mingau dado às mulheres que acabaram de parir. Com bom humor ele apenas disse: “que bom, eu adoro mingau.”
Carybé fez diversas ilustrações de livros para diversos autores da literatura, entre eles, Jorge Amado, Rubem Braga, Mário de Andrade e Gabriel García Marquez, além de ilustrar livros de sua autoria e co-autoria, como Olha o Boi e Bahia, Boa Terra Bahia, com Jorge Amado. Em 1981, após 30 anos de pesquisa, publica a Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia.
Carybé morreu em 1997, na cidade de Salvador.

"O feitiço da Bahia começa pela cozinha. Você só se alimenta de comidas sagradas."
- Carybé, em entrevista a Clarice Lispector.
Capoeira na praia, de Carybé.
"exemplo notável em sua arte, que recria a realidade do país e da vida popular que ele conhece como poucos, por tê-la vivido como ninguém." 
- Jorge Amado.

Cotidiano, de Carybé.

"São aguadeiros, lavadeiras com trouxas, homens
e mulheres com balaios e tabuleiros, flores, cestos, latas
d'água, tijolos, frutas, animais, moringas, madeira, caixas
e caixotes, barris, até caixões de defunto. Aqui, tudo
nessa vida se carrega na cabeça!"
- Carybé.


Carybé e Nancy.
"Ele sempre estava dizendo aos quatro ventos que era 'barriga de pobre', portanto gostava de tudo. Tudo, menos jenipapo. Do licor, então, nem se fala...tinha verdadeiro horror."
- Nancy, companheira de vida.


Baianas, Carybé.
DEVOÇÃO A RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA
"sou amoroso e devoto da religiosidade afro-brasileira, de seus deuses modestos e humanos, que hoje se defrontam com estes deuses contemporâneos, terríveis e vorazes, que são a tecnologia e a ciência."

Mãe Senhora [Maria Bibiana do Espirito Santo] e Carybé.


Iansan, de Carybé.

CARYBÉ, PIERRE VERGER E CAYMMI
Ilustrações do livro Carybé, Verger e Caymmi - Mar da Bahia.

Ilustrações do livro Carybé e Verger - Gente da Bahia.

Ilustrações do livro Carybé e Verger - Gente da Bahia.


Carybé, pintando o painel no Memorial da América Latina em São Paulo,
produzido na década de 1980. Foto: Acervo da família.
fonte:www.elfikurten.com.br

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