Estrada de Ferro Dom Pedro II
Convivendo em uma sociedade
rural e escravista, o contato com a mentalidade empresarial britânica que, nos
meados do século XIX, gestava a segunda fase da Revolução Industrial, foi
determinante para a formação do pensamento de Mauá.
O seu estilo liberal de
administrar era personalíssimo para o Brasil, país acostumado à forte
centralização monárquica que o Poder Moderador, expresso na Constituição de
1824, havia reafirmado. Sua característica principal, em qualquer setor
econômico que atuou, foi o pioneirismo.
Com menos de trinta anos, já
possuía fortuna que, segundo ele próprio, “assegurava a mais completa
independência”. Os seus primeiros passos como empresário foram marcados pela
ousadia de projeto, apostando no emprego à tecnologia de ponta. Em toda a sua
carreira preocupou-se com a correta gestão de recursos, marcada por uma
administração descentralizada, onde a responsabilidade de cada indivíduo na
cadeia de comando era valorizada. A sua política salarial expressava um
investimento nos talentos de seus empregados, tendo sido pioneiro, no país, na
distribuição de lucros da empresa aos funcionários. Em complemento, incentivava
os seus colaboradores mais próximos a montar empresas e a fazer negócios por
conta própria. O nível de gerência era contemplado com créditos e apoio logístico
para operar os empreendimentos, o que combinado com a autonomia administrativa
e com a participação nos lucros, permitia fazer face à maioria das
dificuldades.
Desse modo, Mauá controlou oito
das dez maiores empresas do país: as restantes eram o Banco do Brasil e a
Estrada de Ferro Dom Pedro II, ambos os empreendimentos estatais. Chegou a
controlar dezessete empresas, com filiais operando em seis países. Sua fortuna
em 1876 atingiu o valor de 115 mil contos de réis, enquanto o orçamento do
Império do Brasil para aquele ano contava apenas com 97 mil contos de réis.
Estima-se que a sua fortuna seria equivalente a 60 bilhões de dólares, nos dias
de hoje.
Mauá também foi muito conhecido
por suas ideias contrárias à escravidão, o que o distanciava das elites
políticas do Império, o que se ressentiu indiretamente nos seus interesses
comerciais. Com o passar dos anos, Mauá foi se afundando em dívidas, pois
sempre que não conseguia recursos, fosse através de subscrições, ou através do
apoio financeiro do governo, lançava mão das reservas de sua base de operações:
o Banco Mauá & Cia.
Com a extinção do tráfico negreiro, a partir da Lei Eusébio
de Queirós (1850), os capitais até então empregados no comércio de escravos
passaram a ser investidos na industrialização. Aproveitando essa oportunidade,
Mauá passou a se dividir entre as atividades de industrial e banqueiro, tendo
acumulado fortuna aos quarenta anos de idade.
Entre os investimentos que realizou, além do estaleiro e
fundição na Ponta da Areia, destacam-se:
* o projeto de iluminação a gás da cidade do Rio de
Janeiro, cuja concessão de exploração obteve por vinte anos. Pelo contrato, o
empresário comprometia-se a substituir 21 milhas de lampiões a óleo de baleia
por outros, novos, de sua fabricação, erguendo uma fábrica de gás nos limites
da cidade. Os investidores só começaram a subscreveram as ações da Companhia de
Iluminação a Gás quando os primeiros lampiões, no centro da cidade, foram
acessos, surpreendendo a população (25 de março de 1854). Posteriormente,
premido por dificuldades financeiras, Mauá cedeu os seus direitos de exploração
a uma empresa de capital britânico, mediante 1,2 milhão de Libras esterlinas e
de ações no valor de 3.600 contos de réis.
* a organização da Companhia de Navegação do Amazonas
(1852), com embarcações a vapor fabricadas no estaleiro da Ponta da Areia.
Posteriormente o Império concedeu a liberdade de navegação do rio Amazonas a
todas as nações, levando Mauá a desistir do empreendimento, transferindo os
seus interesses a uma empresa de capital britânico.
* a construção de um trecho de 14 quilômetros de linha
férrea entre o porto de Mauá, na baía de Guanabara, e a estação de Fragoso, na
raiz da serra da Estrela (Petrópolis), na então Província do Rio de Janeiro, a
primeira no Brasil. No dia da inauguração (30 de abril de 1854), na presença do
imperador e de autoridades, a locomotiva, posteriormente apelidada de Baronesa
(em homenagem à esposa de Mauá), percorreu em 23 minutos o percurso. Na mesma
data, em reconhecimento, o empresário recebeu o título de barão de Mauá. Este
seria o primeiro trecho de um projeto maior, visando comunicar a região
cafeicultora do vale do rio Paraíba e de Minas Gerais ao porto do Rio de
Janeiro. Em 1873 pela União & Indústria, empreendimento de Mauá ligando
Petrópolis (RJ) a Juiz de Fora (MG), a primeira estrada pavimentada no país,
chegavam as primeiras cargas de Minas Gerais para a Estrada de Ferro Dom Pedro
II (depois Estrada de Ferro Central do Brasil) empreendimento estatal
inaugurado em 1858, que oferecia fretes mais baixos. Em 1882, vencidas as
dificuldades técnicas da serra, os trilhos chegavam a Petrópolis.
* o estabelecimento de uma companhia de bondes puxados por
burros na cidade do Rio de Janeiro, cujo contrato para exploração Mauá adquiriu
em 1862, mas cujos direitos, devido a necessidades de caixa, foram cedidos à
empresa de capital norte-americano Botanical Garden’s Railroad (1866), que
inaugurou a primeira linha de bondes em 1868, organizando uma lucrativa rede de
transportes.
* a participação, como acionista, no empreendimento da
Recife & São Francisco Railway Company, a segunda do Brasil, em sociedade
com capitalistas ingleses e de cafeicultores paulistas, destinada a escoar a
safra de açúcar da região.
* participação, como acionista, na Ferrovia Dom Pedro II
(depois Estrada de Ferro Central do Brasil), mesmo tendo consciência que, pelo
seu traçado, essa rodovia tiraria toda a competitividade da Rio-Petrópolis;
* a participação, como empreendedor, na São Paulo Railway
(depois Estrada de Ferro Santos-Jundiaí) (empreendimento totalmente custeado
por ele, sendo a quinta ferrovia do país, em 16 de fevereiro de 1867.
* o assentamento do cabo submarino, em 1874.
Em 1852, o visconde fundou o Banco Mauá, MacGregor &
Cia, com filiais em várias capitais brasileiras e em Londres, Paris e Nova
Iorque. No Uruguai, fundou em 1857 o Banco Mauá Y Cia., sendo o primeiro
estabelecimento bancário daquele país, inclusive com autorização de emitir
papel-moeda, sendo que tal banco abriu filial em Buenos Aires, tendo sido
citado por Jules Verne como um dos principais bancos da América do Sul.
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